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Por que reduzir as emissões de carbono é importante?

  • Foto do escritor: Guilherme Haygert
    Guilherme Haygert
  • há 21 minutos
  • 5 min de leitura

Não há lentidão na mudança climática. Estamos a passos largos em relação ao aquecimento do planeta, e isso é grave. Desde o período pré-industrial, a temperatura da Terra já aumentou em pelo menos 1°C, e os sinais de alerta estão sendo dados há anos de forma cada vez mais veemente (Gillett et al., 2021; Matthews & Wynes, 2022). Para compreender a magnitude dessa crise, é importante considerar o contexto histórico: o planeta Terra já enfrentou cinco extinções em massa. Com exceção da extinção que eliminou os dinossauros, todas as demais envolveram mudanças climáticas produzidas por gases de efeito estufa (Radu, 2023; Kaiho, 2022), resultando na aniquilação de 75% a 96% das espécies existentes. A extinção ocorrida há cerca de 250 milhões de anos começou quando o carbono aqueceu o planeta Terra em torno de 5 graus Celsius, desencadeando a liberação de metano, um gás de efeito estufa, o que quase deixou a vida na Terra inexistente.

Fábrica com várias chaminés liberando fumaça branca no ar. Céu nublado. Estrutura industrial complexa e atmosfera de poluição evidente.

Atualmente, a situação é ainda mais alarmante. O ritmo de emissão de carbono na atmosfera está cerca de dez vezes mais rápido do que em qualquer época anterior à industrialização (Raupach et al., 2007). Mais da metade do carbono dissipado na atmosfera oriundo da queima de combustíveis fósseis foi emitido nas últimas três décadas, demonstrando o crescimento exponencial de nossas emissões. Seguindo esta tendência, há estimativas de que o aquecimento do planeta Terra possa subir mais 4 graus Celsius até o ano de 2100, com consequências devastadoras (Wu et al., 2018; Betts et al, 2011).

A mudança climática é mais rápida do que nossa capacidade de percebê-la e admiti-la. Mesmo cumprindo as metas de emissão do Acordo de Paris, poderemos chegar a 4 graus Celsius de aquecimento, tendo como uma das consequências a transformação de florestas tropicais do mundo em savanas. Com apenas dois graus Celsius de aumento na temperatura, as calotas polares começarão a se desmanchar e pelo menos 400 milhões de pessoas vão sofrer com a falta de água, assim como cidades na faixa equatorial se tornarão inabitáveis. Com o aumento da temperatura em três graus Celsius, a Europa meridional vivenciará uma seca permanente e as áreas queimadas por incêndios florestais todo ano iriam dobrar no Mediterrâneo, sextuplicando nos Estados Unidos. Com quatro graus Celsius de aumento na temperatura, oito milhões de novos casos de dengue anualmente ocorreriam só na América Latina e a mortalidade ligada ao calor iria aumentar em pelo menos 9% (Gates, 2021).

Conforme trabalho do ganhador do Prêmio Nobel William Nordhaus (Nordhaus, 1991), um crescimento econômico acima do previsto significa que teremos uma probabilidade maior do que um para três de que as emissões vão ultrapassar o pior cenário usado como base de referência pelas Nações Unidas, ou seja, haveria uma elevação da temperatura em 5 graus Celsius ou mais na temperatura global. No pior cenário do pior cenário de emissões, que seria um aumento de 8 graus Celsius, os seres humanos na linha do Equador e nos trópicos não poderiam sair de casa sem colocar sua vida em risco. Com esse aumento de temperatura, os oceanos aumentariam mais de sessenta metros, o que causaria a inundação de dois terços das principais cidades mundiais da atualidade e tampouco restariam terras capazes de produzir com eficiência a quantidade de alimentos que consumimos hoje (Gates, 2021).

Para entender melhor a crise climática, é crucial compreender os gases de efeito estufa. O dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais comum, existindo vários outros, tais como o óxido nitroso e o metano. Esses gases são responsáveis pela retenção do calor, permitindo que a temperatura média da superfície terrestre suba. Quanto maior a quantidade de gases, mais a temperatura sobe. Os gases de efeito estufa permanecem na atmosfera por muito tempo. Para se ter uma ideia, cerca de um quinto do dióxido de carbono emitido atualmente continuará no ar ao longo dos próximos 2 a 20 séculos (Archer et al., 2009), significando que boa parte das emissões cumulativas permanecem na atmosfera (Bala et al., 2005).

Como bem exemplifica Bill Gates, fundador da Microsoft, "o clima é como uma banheira sendo enchida lentamente. Mesmo se fecharmos um pouco a torneira e deixarmos apenas um fio de água escorrendo, em algum momento a banheira acabará transbordando. Estabelecer a meta de apenas reduzir as emissões – em lugar de acabar de vez com elas – não será suficiente. A única meta sensata é zero" (Gates, 2021).

A economia verde já é uma realidade e está se tornando uma exigência de consumidores mais conscientes. Provavelmente, em curto espaço de tempo, os hábitos sustentáveis serão mais preponderantes e países que construírem empresas e indústrias de carbono zero eficientes vão liderar a economia global nas próximas décadas. Portanto, a luta contra as emissões de carbono deve ser de todos, pois o planeta é o único lugar conhecido possível para vivermos. Trata-se de uma luta não para salvar o planeta, mas para salvar a espécie humana. Se as temperaturas globais excederem 1,5ºC, aproximadamente um terço das espécies correm o risco de serem extintas.

 

Referências:

GATES, Bill. Como Evitar um Desastre Climático: As soluções que temos e as inovações necessárias. Tradução de Rogério Durst. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

Gillett, N. P., Kirchmeier-Young, M. C., Ribes, A., Shiogama, H., Hegerl, G. C., Knutti, R., Gastineau, G., John, J. G., Li, L., Nazarenko, L., Rosenbloom, N., Seland, Ø., Wu, T., Yukimoto, S., & Ziehn, T. (2021). Constraining human contributions to observed warming since the pre-industrial period. Nature Climate Change, 11(3), 207–212. Disponível em: https://doi.org/10.1038/S41558-020-00965-9.

Matthews, H. D., & Wynes, S. (2022). Current global efforts are insufficient to limit warming to 1.5°C. Science, 376(6600), 1404–1409. Disponível em: https://doi.org/10.1126/science.abo3378.

Radu, B. (2023). Massive extinction drivers and climate impacts (pp. 145–176). Elsevier eBooks. Disponível em: https://doi.org/10.1016/b978-0-12-822568-4.00001-8.

Kaiho, K. (2022). Relationship between extinction magnitude and climate change during major marine and terrestrial animal crises. Biogeosciences, 19(14), 3369–3380. Disponível em: https://doi.org/10.5194/bg-19-3369-2022.

Raupach, M. R., Marland, G., Ciais, P., Le Quéré, C., Canadell, J. G., Klepper, G., & Field, C. B. (2007). Global and regional drivers of accelerating CO2 emissions. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 104(24), 10288–10293. Disponível em: https://doi.org/10.1073/PNAS.0700609104.

Wu, W., Xu, C., & Liu, X. (2018). Climate Change Projections in the Twenty-First Century (pp. 21–49). Springer, Singapore. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-981-10-4199-0_2.

Betts, R., Collins, M., Hemming, D., Jones, C. D., Lowe, J., & Sanderson, M. G. (2011). When could global warming reach 4°C? Philosophical Transactions of the Royal Society A, 369(1934), 67–84. Disponível em: https://doi.org/10.1098/RSTA.2010.0292.

Nordhaus, W. D. (1991). To slow or not to slow: The economics of the greenhouse effect. The Economic Journal, 101(407), 920-937. Disponível em: https://doi.org/10.2307/2233864.

Archer, D., Eby, M., Brovkin, V., Ridgwell, A., Cao, L., Mikolajewicz, U., Caldeira, K., Matsumoto, K., Munhoven, G., Montenegro, A., & Tokos, K. S. (2009). Atmospheric Lifetime of Fossil Fuel Carbon Dioxide. Annual Review of Earth and Planetary Sciences, 37(1), 117–134. Disponível em: https://doi.org/10.1146/ANNUREV.EARTH.031208.100206.

Bala, G., Caldeira, K., Mirin, A. A., Wickett, M., & Delire, C. (2005). Multicentury Changes to the Global Climate and Carbon Cycle: Results from a Coupled Climate and Carbon Cycle Model. Journal of Climate, 18(21), 4531–4544. Disponível em: https://doi.org/10.1175/JCLI3542.1.

 
 
 

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