Acelerando para o Abismo: O Impacto da Mudança Climática
- Guilherme Haygert

- 24 de fev.
- 4 min de leitura
Não há lentidão na mudança climática. Estamos a passos largos em relação ao aquecimento do planeta, e isso é grave. Desde o período pré-industrial, a temperatura da Terra já aumentou em pelo menos 1°C, e os sinais de alerta vêm sendo dados há anos de forma cada vez mais veemente (Gillett et al., 2021; Matthews & Wynes, 2022).

Um Olhar Histórico sobre a Crise Climática
Para compreender a magnitude dessa crise, é essencial considerar o contexto histórico: a Terra já enfrentou cinco extinções em massa. Com exceção da extinção que eliminou os dinossauros, todas as demais envolveram mudanças climáticas produzidas por gases de efeito estufa (Radu, 2023; Kaiho, 2022), resultando na aniquilação de 75% a 96% das espécies existentes.
A extinção ocorrida há cerca de 250 milhões de anos começou quando o carbono aqueceu o planeta Terra em torno de 5°C, desencadeando a liberação de metano, um gás de efeito estufa, o que quase levou à extinção total da vida no planeta.
Atualmente, a situação é ainda mais alarmante. O ritmo de emissão de carbono na atmosfera está cerca de dez vezes mais rápido do que em qualquer época anterior à industrialização (Raupach et al., 2007). Mais da metade do carbono liberado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis foi emitida nas últimas três décadas, demonstrando um crescimento exponencial nas emissões.
Projeções para o Futuro: Um Cenário Preocupante
Seguindo essa tendência, estima-se que o aquecimento global possa atingir mais 4°C até o ano de 2100, com consequências devastadoras (Wu et al., 2018; Betts et al., 2011). Mesmo cumprindo as metas do Acordo de Paris, poderemos alcançar um aumento de temperatura de 4°C, o que resultaria na transformação de florestas tropicais em savanas.
Com um aumento de apenas 2°C, as calotas polares começarão a se desmanchar, e pelo menos 400 milhões de pessoas sofrerão com a escassez de água, enquanto cidades na faixa equatorial poderão se tornar inabitáveis.
Se a temperatura global subir 3°C, a Europa meridional enfrentará secas permanentes, e as áreas queimadas por incêndios florestais dobrarão no Mediterrâneo, enquanto nos Estados Unidos esses números podem ser seis vezes maiores.
Com 4°C de aquecimento, oito milhões de novos casos de dengue ocorreriam anualmente apenas na América Latina, e a mortalidade ligada ao calor aumentaria em pelo menos 9% (Gates, 2021).
No pior cenário possível, em que a temperatura global subiria 8°C, os seres humanos nos trópicos e na linha do Equador não poderiam sair de casa sem colocar suas vidas em risco. Os oceanos subiriam mais de 60 metros, inundando dois terços das principais cidades do mundo, e as terras férteis para produção de alimentos se tornariam insuficientes para suprir a demanda global (Gates, 2021).
O Impacto dos Gases de Efeito Estufa
O dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa, mas não o único. O metano e o óxido nitroso também desempenham papéis significativos no aquecimento global.
Esses gases retêm o calor na atmosfera, aumentando a temperatura média da Terra.
Uma característica preocupante desses gases é sua longevidade. Cerca de um quinto do dióxido de carbono emitido atualmente permanecerá na atmosfera por até 20 séculos (Archer et al., 2009). Isso significa que as emissões cumulativas continuarão impactando o clima global por centenas de anos (Bala et al., 2005).
Bill Gates, fundador da Microsoft, ilustra essa questão comparando o clima a uma banheira sendo enchida lentamente. Mesmo que a torneira seja parcialmente fechada, a água continuará subindo até que a banheira transborde. Portanto, a única meta viável não é apenas reduzir as emissões, mas eliminá-las completamente (Gates, 2021).
A Economia Verde como Solução
A economia verde já é uma realidade e está se tornando uma exigência dos consumidores. Em um futuro próximo, hábitos sustentáveis serão predominantes, e países que investirem em empresas e indústrias de carbono zero liderarão a economia global.
A luta contra as emissões de carbono deve ser de todos, pois este é o único planeta conhecido onde podemos viver. Não se trata apenas de salvar a Terra, mas sim de garantir a sobrevivência da espécie humana. Caso as temperaturas globais excedam 1,5°C, aproximadamente um terço das espécies existentes estará em risco de extinção.
Referências
GATES, Bill. Como Evitar um Desastre Climático: As soluções que temos e as inovações necessárias. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
Gillett, N. P., Kirchmeier-Young, M. C., Ribes, A., et al. (2021). Constraining human contributions to observed warming since the pre-industrial period. Nature Climate Change, 11(3), 207–212. Disponível em: https://doi.org/10.1038/S41558-020-00965-9.
Matthews, H. D., & Wynes, S. (2022). Current global efforts are insufficient to limit warming to 1.5°C. Science, 376(6600), 1404–1409. Disponível em: https://doi.org/10.1126/science.abo3378.
Radu, B. (2023). Massive extinction drivers and climate impacts. Elsevier eBooks. Disponível em: https://doi.org/10.1016/b978-0-12-822568-4.00001-8.
Kaiho, K. (2022). Relationship between extinction magnitude and climate change during major marine and terrestrial animal crises. Biogeosciences, 19(14), 3369–3380. Disponível em: https://doi.org/10.5194/bg-19-3369-2022.
Raupach, M. R., Marland, G., Ciais, P., et al. (2007). Global and regional drivers of accelerating CO2 emissions. PNAS, 104(24), 10288–10293. Disponível em: https://doi.org/10.1073/PNAS.0700609104.
Wu, W., Xu, C., & Liu, X. (2018). Climate Change Projections in the Twenty-First Century. Springer, Singapore. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-981-10-4199-0_2.
Betts, R., Collins, M., Hemming, D., et al. (2011). When could global warming reach 4°C? Philosophical Transactions of the Royal Society A, 369(1934), 67–84. Disponível em: https://doi.org/10.1098/RSTA.2010.0292.
Nordhaus, W. D. (1991). To slow or not to slow: The economics of the greenhouse effect. The Economic Journal, 101(407), 920-937. Disponível em: https://doi.org/10.2307/2233864.



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